quarta-feira, 27 de abril de 2011

Sem titulo creio eu...

Sucedem se as semanas em Madrid, e os dias passam neste pequeno ciclo cheio de nadas bem e mal passados. Agora com o aproximar (ou não) do final de mais este período penso e repenso tantas outras coisas que podia ter feito e, no final fico ainda assim contente por estar aqui, por o saldo ser positivo.
Antes da semana santa fui com o “taller” de projectos numa maravilhosa viagem pela Sicília, o roteiro era baseado no que Asplund havia seguido, fácil de perceber a opção visto ser a cátedra do professor Lopéz-Pelaéz.
Foi uma viagem fantástica, não em si por qualquer momento em especial, em realidade não houve um momento especial provavelmente, talvez a grande qualidade tenha sido essa mesmo, foi um apenas somar de pequenas coisas, nunca houve (como em outras viagens também elas excelentes) uma obra de referência, uma cidade apaixonante, tudo foram pequenos acontecimentos, deliciosos efémeros minutos de pura degustação sensorial ( se bem que todos os almoços e jantares duraram mais que vários minutos).
Assim, deparei-me uma vez mais com o prazer das pequenas coisas, dos pequenos gestos, das pequenas obras e, dos pequenos reencontros…
Foi a primeira vez que fiz uma viagem sem máquina fotográfica, não que tenha sido planeado, foi apenas um fortuito acaso da minha tremenda incapacidade para tudo que tem que ver com planear, antecipar ou ordenar, mas na verdade não há qualquer tipo de magoa ou tristeza por não trazer fotos, mais que gravado por um pulsar anatómico de um botão seguido de um flash, as imagens ficaram gravadas na minha memória de forma eficaz por um processo simples de percepção, contemplação e deslumbramento, assim, parece me cada vez mais que se torna mais fácil desfrutar do que nos envolve quando a relação entre olho e objecto está “desprovida” de qualquer tipo de filtro.



terça-feira, 19 de abril de 2011

...mais um para o Siza

SIZA GANHA MEDALHA DE OURO DA UIA

A União Internacional de Arquitectos deliberou atribuir a Medalha de Ouro ao arquitecto Siza Vieira. A candidatura do arquitecto portuense aquele que é um dos mais prestigiados galardões, foi desta feita proposta pelo RIBA – Royal Institute of British Architects, anunciou o portal da Ordem dos Arquitectos Secção Regional Sul.

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Toda a arquitectura pressupõe uma determinada relação entre a opacidade natural da maioria dos materiais empregados e a luz exterior. Os grossos muros românicos abriam-se dificilmente para que a claridade do dia movesse, num espaço que parecia recusá-las, as sombras que precisamente iriam dar-lhe sentido. A sombra é o que permite fazer a leitura da luz. O gótico rasgava-se verticalmente em vitrais que, dando passagem à claridade, ao mesmo tempo a matizavam para resgatar no último instante o efeito misterioso da penumbra. Mesmo nos modernos tempos, quando a parede é, em grande parte, substituída por aberturas que quase a anulam, que a fazem desaparecer em absurdos revestimentos de vidro que diluem os seus próprios volumes num processo de caleidoscópicas reflexões e projecções, a necessidade de apoio de que o olho humano não pode prescindir procura ansiosamente um ponto sólido onde possa descansar e contemplar.
Não conheço na arquitectura moderna uma expressão plástica em que o primórdio da parede seja tão importante como na obra de Siza Vieira. Esses muros longos e fechados surgem, à primeira vista, como inimigos inconciliáveis da luz, e, ao deixarem-se finalmente perfurar, fazem-no como se obedecessem contrariados às inadiáveis exigências da funcionalidade do edifício. A verdade, porém, segundo entendo, é outra. A parede, em Siza Vieira, não é um obstáculo à luz, mas sim um espaço de contemplação em que a claridade exterior não se detém na superfície. Temos a ilusão de que os materiais se tornaram porosos à luz, de que o olhar vai penetrar a parede maciça e reunir, em uma mesma consciência estética e emocional, o que está fora e o que está dentro. Aqui, a opacidade torna-se transparência. Só um génio seria capaz de fundir tão harmoniosamente estes dois irredutíveis contrários. Siza Vieira é esse taumaturgo."

José Saramago